(Escolha 1: +1 Determinação ou +1 Argúcia)
— famoso provérbio ussurano
Mas as pessoas, ao dizerem tais coisas, não escondem o medo no olhar e, ao passar perto da paisagem nevada, até mesmo o mercador mais corajoso abaixa a voz. Pois as florestas de Ussura podem ouvir cada palavra. Tarde da noite, quando o vento ululante desce das montanhas e atravessa o arvoredo compacto, as famílias se reúnem em volta da lareira e contam histórias sobre os “lechii”, espíritos antigos que rogam bênçãos e maldições. O maior de todos é Matuchka, a mulher que ronda a floresta com uma vassoura numa das mãos. Quando encontra criancinhas longe de casa, ela as varre de volta com um breve “tsc, tsc”. Quando não a tratam com o devido respeito, ela as joga em seu caldeirão preto e as transforma em ensopado.
Ussura não é uma terra gentil. Não é uma terra meiga. Mas seu povo tem um coração gentil, meigo e humilde, e assim é graças às duras lições que aprendeu com o inverno de Ussura.
O País
Ussura fica coberta de gelo e neve quase o ano todo. Quando não é a neve, é a lama. Um acadêmico em visita ao país certa vez escreveu: “Os ussuranos não vivem no presente, e sim quinhentos anos no passado.” Não existem estradas aproveitáveis, represas nem qualquer outra estrutura que lembre a arquitetura moderna... nem sequer a arquitetura antiga, por falar nisso. Até mesmo suas choças e choupanas são primitivas em comparação com os barracos dos camponeses mais afortunados de Théah.
Mas, se você perguntar aos ussuranos, verá que eles não acham que estão vivendo num deserto gelado. Na verdade, parecem muito bem alimentados. Basta olhar um pouco mais de perto para ver que Ussura não é o ermo que parecia ser à primeira vista. As pessoas mantêm lavouras produtivas em terras que não deveriam permiti-las, têm uma sorte surpreendente com suas armadilhas e apanham pescado em tamanha quantidade que deixaria qualquer pescador avaloniano verde de inveja.
Para quem não nasceu em Ussura, a terra pode parecer deliberadamente maligna. Não se veem animais de caça. As frutinhas silvestres e os cogumelos deixam os invasores invariavelmente enjoados, e os pontos de referência no relevo parecem mudar por conta própria. E, enquanto isso, os ussuranos passeiam pelo caos e se perguntam por que as pessoas de outras nacionalidades consideram sua terra rude e inóspita. Afinal, Matuchka fornece tudo de que eles precisam e, se por vezes ela é severa, é só porque deseja que seus filhos sejam fortes.
O Povo
Os ussuranos são pessoas de baixa estatura e constituição robusta, e os plebeus geralmente têm cabelos e olhos escuros. Apenas a nobreza – especificamente os escolhidos pela Avó Inverno – ostentam os olhos cor de esmeralda da Dádiva. Os homens ussuranos costumam cultivar barbas e cabelos compridos; as mulheres prendem os cabelos para trás, e as casadas geralmente cobrem-nos com um lenço conhecido como babuchka. Ussuranos de toda classe e todo gênero têm pele clara e ficam logo corados depois de tomar alguns drinques. Às vezes, os ouutros teanos caçoam da aparência cartunesca dos ussuranos: narizes protuberantes, dedos curtos e grossos que formam calos com facilidade. Como os ussuranos conseguem sobreviver tão bem numa terra coberta de neve? “A pergunta é boa, mas a resposta é melhor ainda”, disse um famoso viajante ussurano. “A terra cuida da gente, e a gente cuida da terra.”
Essa afirmação é mais verdadeira do que o resto de Théah imagina. Em Ussura, a terra está viva, passa de estação a estação com alegria e fertilidade, luta ao lado do povo em tempos de guerra.
Não quer dizer que as árvores deem frutos atendendo às ordens de alguém ou que a vida de um agricultor ussurano seja menos difícil que a vida de seus semelhantes em qualquer outro país. Nada disso. É uma demonstração de que a terra escuta seu povo, recompensa as boas ações e castiga as maldades. Se um agricultor ussurano trabalhar duro o ano todo e se esforçar para colocar seus deveres acima de suas vontades egoístas, ele será recompensado. Por mais difícil que tenha sido o ano, sua lavoura vai vicejar e sua família será alimentada.
Nenhuma invasão até hoje passou do primeiro rio de Ussura. As hordas bárbaras de Catai morreram doentes ou de inanição. Os guerreiros mais ousados de Eisen costumam falar de maneira rude do general Johann von der Velde, que os liderou num ataque à província mais ao sul de Ussura no ano 523. Encontraram o exército quando a neve derreteu: enterrado por uma geada forte que começou no meio do verão.
Declarações práticas, honestas e francas como esta são a base da filosofia ussurana: “Para que mexer, se do jeito que está funciona?” poderia ser o lema da nação.
Última edição por Teach em Sex 04 Ago 2017, 14:08, editado 1 vez(es)