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— Lucjan Wyrzyk
Por volta de 1667, o Concílio Real de dezesseis nobres e bispos vaticinistas havia se atolado em corrupção e politicagem. O rei idoso e agonizante tinha pouco poder. A Comunidade estava morrendo. Mas o filho do rei encontrou uma maneira de debelar o mal que corria nas veias dos dois reinos: dar a todos os cidadãos a condição de nobre. E foi assim que a Comunidade se tornou o País da Liberdade Dourada.
A Liberdade Dourada deu a todos os cidadãos da Comunidade o direito ao voto no Sejm. Essa alteração provocou uma mudança dramática no poder dentro da Comunidade, elevando os camponeses plebeus à mesma importância da nobreza. Todas as pessoas têm direito à mesma voz, à mesma autoridade.
Entretanto, nas regiões mais obscuras da Comunidade, ouvem-se os sussurros de vozes antigas. Os dievai – entidades poderosas que se escondem nas sombras das florestas, encruzilhadas e cemitérios – prometem poder àqueles que estão dispostos a selar um pacto.
O País
O clima da Rzeczpospolita (re-ZÉKS-pos-POli-ta) geralmente é temperado. Os verões são quentes e os invernos, gelados, mas sempre parece haver um vento frio vindo do norte. A chuva é uma companheira constante durante o verão; no inverno, é a neve. Em virtude de seu tamanho, a Comunidade tem várias características geográficas diferentes. Politicamente, o país se divide em duas nações: a Rzeczpospolita no sudoeste e a Curônia a nordeste. Boa parte da Rzeczpospolita é formada por planícies e brejos, além das florestas que juncam os campos.
O maior rio do país, o Sejm (rebatizado em homenagem ao corpo governante por votação unânime cinquenta anos atrás), percorre a nação inteira. Começa perto de Suzdal em Ussura, desce até Bodorigum, segue rumo sul até Wawelec e entra em Vodacce, propiciando uma rota comercial veloz até os mares do sul. Daí o Sejm se volta para o leste e segue na direção da baía. Ussura utiliza o rio para transportar mercadorias pelo território da Comunidade, pagando taxas exorbitantes a cada parada. No nordeste, Curônia é praticamente um brejo só, a não ser pela floresta de Sandaras, um lugar mal assombrado onde só os mais valentes se atrevem a entrar.
Cultura
A Comunidade é regida por uma coroa unificada e uma espécie de parlamento chamado “Sejm”. Até recentemente, o Sejm era composto de dezesseis nobres e bispos vaticinistas que chegaram ao poder por meio de manobras políticas, comércio e ameaças de se rebelar contra o soberano. O rei acabou abrindo mão de vários de seus direitos e, por decreto, concedeu-os aos membros do Sejm. Mas tudo isso já mudou. O fato mais importante na história da Comunidade – e um dos mais importantes na história teana – se deu há apenas dezoito meses. A república estava à beira do colapso político por dois motivos. Primeiramente, o Sejm se achava paralisado por uma norma conhecida como liberum veto, que permitia a qualquer poseł (“emissário”, “representante”; plural: “posłowie”) vetar qualquer projeto de lei e, dessa maneira, anular toda a discussão e a votação. Qualquer poseł podia simplesmente anunciar “Nie pozwalam!” (“Não permito tal coisa!”) e a discussão era encerrada. Os posłowie criaram essa regra para mostrar que todos os integrantes do Sejm eram iguais, que suas opiniões teriam o mesmo peso em todas as matérias. Infelizmente, o cinismo e as manobras políticas impediam qualquer progresso no Sejm.
O rei doente da Comunidade – Stanisław I – jazia em seu leito de morte. Seu filho, Stanisław II, o suposto herdeiro, procurava uma maneira de salvar o reino. Trancou-se na Biblioteca Real, em busca de alguma coisa – qualquer coisa – que pudesse romper a paralisia do Sejm. Pouco depois da meia-noite, ele a encontrou.
Todo decreto real podia ser vetado pelo Sejm, exceto um. Diversos acordos e tratados haviam privado o rei de muitas de suas liberdades, menos uma: o direito de conceder um título de nobreza. O Sejm não tinha o direito de vetar tal decreto. E, portanto, o filho leal levou o pai agonizante ao Sejm – transportado em sua própria cama por meia dúzia de criados – para emitir um último decreto antes de morrer. O pai se pronunciou e os secretários escreveram as derradeiras palavras do rei.
O decreto? Ele anunciou que todos os cidadãos da Comunidade passavam a ser considerados nobres, por terem recebido o título de “dom” ou “dona”. E, com isso, todo cidadão da Comunidade passava a ter o direito ao voto no Sejm.
Com seu último decreto, o rei transformou a Comunidade numa verdadeira democracia. O Sejm tinha trinta dias até o decreto final do rei entrar em vigor. Não havia como impedi-lo. E, só de cogitar a possibilidade de todo cidadão deter o poder de vetar qualquer projeto de lei, o Sejm rápida e unanimemente aprovou a remoção do liberum veto. Horas depois, o rei Stanisław sobreviveria a um atentado graças a seu filho e, na ocasião, a noiva do rapaz, uma sortílega de Vodacce. O rei ainda está vivo, mas por muito pouco, e seu filho tenta angariar apoio político suficiente para sucedê-lo.
Agora todo cidadão da Comunidade pode ir ao Sejm e votar como bem entender. Nem todos o fazem, mas eles sabem que podem. Se o Sejm decidir declarar guerra, o Exército poderá se apresentar e votar contra. Se o Sejm resolver aumentar os impostos, todos os membros das guildas sarmáticas poderão se apresentar e votar contra. Théah não sabe o que é uma democracia verdadeira desde os primeiros tempos do Império. E o povo da Comunidade não disfarça seu orgulho.
Última edição por Teach em Sex 04 Ago 2017, 14:01, editado 2 vez(es)